quarta-feira, 28 de março de 2012

A peleje entre o Mestre Negoativo e o Mestre Porrada

A PELEJA DO MESTRE NEGOATIVO
COM O MESTRE PORRADA
Autor: Mestre Gaio (Olegário Alfredo)

Cinco horas da manhã
Galo cantou no terreiro
Vou rezar o Padre-nosso
E sair do travesseiro
O demônio é perverso
Não cabe dentro do verso
Jesus Cristo é justiceiro.

O mundo da capoeira
É um traçado pessoal
Cada qual sabe de si
Dentro da justa moral
O caminho pela terra
Mesmo se o cabra não erra
Segue pra reta final.

Capoeira é um mistério
Difícil de desvendar
Quem conhece seu segredo
Segredo deve de guardar
Nas voltas que o mundo gira
Mesmo quando a vida expira
Não saímos do lugar.

Capoeira já se sabe
É jogo de camarada
A peleja dos dois mestres
Nesta hora é começada
Berimbau mais pandeiro
Esquentando no terreiro
Com a turma convidada.

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Todo mundo já conhece
Quem é mestre Negoativo
Um bamba na capoeira
Um cantador criativo
Sua fama pelo mundo
Corre mais que o segundo
Por ser ele produtivo.

Já sobre o mestre Porrada
Digo com sinceridade
Um sujeito onipresente
Dotado de ubiqüidade
Tranqüilo na capoeira
Leva a vida verdadeira
Com bastante honestidade.

Peleja de cafumango
Tem mandinga com dendê
Pois o mestre de capoeira
Não tolera fuzuê
O cabra se bobear
No cacete vai entrar
Do pau do maculelê.

Mestre Gaio foi chamando
Os dois mestres para perto
Cada qual se põe de pé
Que é o jeito mais correto
Podem ficar a vontade
E que tenha liberdade
Mas não fique assim tão perto.

2


Porrada tomou partido
Com um pandeiro na mão
Negoativo o cumprimentou
Com muita satisfação
Os pelejeiros já estavam
E logo pestanejavam
Dar início à canção.

Negoativo com o gunga
Pôs-se logo a palpitar:
- Não gosto de safadeza
E não venha me enganar
Te considero meu amigo
Por isso não tem perigo
De você me avacalhar.

O Porrada ponderou
Mas deu uma alfinetada
Negoativo me responda
Sendo tu meu camarada
Por que é que o galo canta
Toda vez de madrugada?

M. Negoativo:
- O cantar do galo digo
Marca a paz celestial
Anunciando o nascer
Do Astro Rei Maioral
Por isto devemos ter
E por ele agradecer
Um bom galo de quintal.

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O galo pra capoeira
Representa a liberdade
Seu cantar marca o saber
Do bem da pontualidade
Aprendendo com o galo
Teremos prosperidade.

M. Porrada:
- Mestre amigo que tu dizes
Do falso capoeirista
Tu és capaz de colocá-lo
Incluído em tua lista
Diga com sinceridade
O que sentes de verdade
Em teu coração de artista?

M. Negoativo:
- Capoeira que é traíra
Leva banho de fumaça
Nem “Senhora da Cadeira”
Não quer gente de tal raça
Canguete e chicotão
Com um golpe de escorão
Boto fora desta praça.

M. Porrada:
Vamos esquentar o rabo
Que a peleja tá cangalha
Quero ver você falar
E que não cometa falha
De bamba da capoeira
Pela terra brasileira
Militante da navalha.

4

M . Negoativo:
O mundo da malandragem
É um mundo traiçoeiro
Sei que muito capoeira
Que se diz ser mandingueiro
Quero que você me diga
Sem sentir dor de barriga
Quem que foi Pedro Mineiro?

M. Porrada:
- Pedro Mineiro sei que foi
Um grande capoeirista
Nascido por Ouro Preto (MG)
Um verdadeiro vigarista
Se mudou para Bahia
Campeão em valentia
Como também navalhista.

Protetor de prostituta
Capadócio na malícia
Cafetão de marinheiro
E secreta de polícia
Pedro Mineiro na vida
Na Bahia transcorrida
Muito tempo foi notícia.

M .Negoativo:
- Mestre Porrada eu gostei
De sua companheiragem
Vi que sobre capoeira
Teve muita aprendizagem
A resposta que me deu
Mostra tudo que aprendeu
Demonstrando ter bagagem.

5

M. Porrada:
- Você que já viajou
Pelo mundo estrangeiro
Namorou moças bonitas
Agiu como bom mineiro
Com o BERIMBRAW enricou
Mas você não me contou
Onde que pôs o dinheiro.

M. Negoativo:
- Pelo mundo viajei
Fui feliz nesta aventura
O dinheiro que ganhei
Não deu nem pra rapadura
Capoeira joguei bem
E cantar cantei também
Em prol da nossa cultura.

M. Porrada:
- Oh, meu velho camarada
Capoeirista imortal
Sei que todo seu trabalho
É de cunho social
Já levou a nossa arte
Caminhou por toda parte
Tocando seu berimbau.

Agora faço a pergunta
Dentro da força moral
Quero ver você dizer
Já que és o maioral
Qual a melhor capoeira
A Angola ou Regional?

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M. Negoativo:
Eu não vejo diferença
No jogo da capoeira
A Regional é marcada
Por ser ela mais ligeira
Da Angola posso dizer
Sem o amigo se ofender
Ela é toda mandingueira.

M. Gaio:
- Urucungo berra-boi
“Quebra cana” camarada
Lá vem todo requebrado
Carrapeta na pegada
Valha-me “Senhora Palma”
Protegendo nossa alma
Do tinhoso pela estrada.

M. Porrada:
- Vamos já mudar com jeito
A toada do gingado
Pro martelo agalopado
Entremos com o pé direito
Que é pra sair bem feito
Tudo que vamos fazer
Para aquele que for ler
Nossa peleja mineira:
EU SÓ LARGO A CAPOEIRA
SÓ SE FOR QUANDO EU MORRER.

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M. Negoativo:
- O capoeira que se preza
Não dá cauda pra nambu
Só se esquiva de aú
Não promete fazer reza
Mesmo com raiva não enfeza
Sabe jogar sem perder
Sabe perder sem sofrer
Na roda não dá bobeira
EU SÓ LARGO A CAPOEIRA
SÓ SE FOR QUANDO EU MORRER.

M. Porrada:
- Para o samba dou pandeiro
Para a roda tenho palma
Para briga te dou calma
Para o cego dou dinheiro
Para batuque batuqueiro
Para a leitura dou o saber
Para a angola o bem querer
Para o burro tenho a viseira
EU SÓ LARGO A CAPOEIRA
SÓ SE FOR QUANDO EU MORRER.

M . Negoativo:
- Para a ginga tenho o corpo
Para roda berimbau
Para a briga o quebra-pau
Para vida tenho porto
Para a morte dou o conforto
Para o amor dou o prazer
Para o domingo lazer
Para o tolo dou rasteira
EU SÓ LARGO A CAPOEIRA
SÓ SE FOR QUANDO EU MORRER.

8

M. Gaio:
- O Martelo agalopado
Ficou mesmo de primeira
Mudem agora a toada
Cantando de outra maneira
Quero ouvir co sentimento
A história do surgimento
Da capoeira mineira.

M. Porrada:
- Eu passei bastante tempo
Pesquisando nos anais
Muita coisa descobri
E quero saber bem mais
Tudo sobre a capoeira
Da nossa Minas Gerais.

Com o mestre Cavalieri
Muita coisa me ensinou
Pelo início de sessenta (1960)
A capoeira aqui chegou
No Clube da ACM
Foi por lá que se aportou.

M. Negoativo:
- É verdade camarada
Eu sei disso e boto fé
E foi seu primeiro aluno
Luís Mário, o Jacaré
Outros alunos apareceram
E formaram o Opanijé.

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Citando Luís Mineiro
O Valtinho com Abdala
Azulão, Paulão e Nó
E o Pratinha da cabala
Desta forma a capoeira
Cumpre o papel de mandala.

M. Porrada:
- Mil novecentos e setenta
A capoeira já fervia
Nas Nações Unidas Tinha
Roda de periferia
O Mestre Cavalieri
Por lá que residia.

O Gereba lá surgiu
Como grupo de verdade
Os guris daquela turma
Ainda com pouca idade
Jogavam a Regional
De causar perplexidade.

Impossível de citar
Todos nomes no anais
Na vida naturalmente
Alguns se despontam mais
Desta forma a capoeira
Tão mística e mandingueira
Cresceu por Minas Gerais.

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M Negoativo:
- A partir deste começo
Tudo veio acontecer
A capoeira mineira
Passou rápido a crescer
Tal cacto mandacaru
Braço a braço a nascer.

O que antes não havia
Surge a figura do mestre
Ploriferando de alunos
Como uma planta silvestre
A capoeira vai à rua
A divertir o pedestre.

O cenário mais marcante
A Praça da Liberdade
Virou palco permanente
Das rodas nesta cidade
A capoeira portanto
Ganha notoriedade.

M Porrada:
- Eis que chega mestre Dunga
Figura capitular
Capoeira ganha força
Tornando mais popular
Invade ruas e praças
Assumindo seu lugar.

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Já muito proliferada
Pela década de oitenta
A capoeira se elitiza
Em academias se assenta
O mestre pra capoeira
Sendo assim desta maneira
E dela que se alimenta.

Capoeira violenta
É o que mais nos amola
Para amenizara roda
Que estava em padiola
Por esta década vem surgindo (1980)
Alguns grupos de Angola.

Capoeira mineira
Creio que se estabilizou
A volta que o mundo deu
Foi a lição que ficou
Capoeira não tem fim
Para quem tanto a amou.

Deus me ensinou a bondade
E meu mestre a malandragem
Agora agradeço aos dois
Pela boa aprendizagem
Vou pegar meu passaporte
E seguir minha viagem

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