quarta-feira, 28 de março de 2012

Cordel para Mestre Suassuna

MESTRE SUASSUNA
O CORDÃO DE OURO DA CAPOEIRA
Autor: Mestre Gaio (Olegário Alfredo) Membro da ABLC e ALTO

Aqui me ponho a escrever
Aos critérios da Tribuna
A trajetória vivida
Desde os tempos de Itabuna
Sobre o mestre soberano
Que se chama Suassuna.

A vida que nos rodeia
É feita de brevidade
Viva a vida com harmonia
Deixe de lado a vaidade
Mais vale um dia de alegria
Do que muitos de saudade.

Capoeira não tem forma
Porque vive a circular
Quanto mais o cabra roda
Mais se perde no lugar
O jogo da capoeira
É um tratado singular.

Capoeira representa
O espelho da semelhança
O saber tanto aprimora
Quanto mais a vida avança
Da roda também se diz:
O traçado da esperança.


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Reinaldo Ramos, sua graça
Seu sobrenome Suassuna
Foi nascido em Ilhéus
Pra ser criado em Itabuna
Ao crescer foi batizado
Com a proteção da Iúna.

Mil novecentos trinta e oito
A data do nascimento
Só mesmo o tempo traçaria
O rol do conhecimento
Ao crescer foi descobrindo
Do viver o fundamento.

Quem tem pressa não aprende
Diz o mestre do lugar
Também para a capoeira
Temos esse linguajar
Não há segundo sem primeiro
No jogo de improvisar.

Em seus planos não constavam
Aprender a capoeira
Ela veio a contragosto
Em forma de brincadeira
Por um problema na perna
Que iniciou nesta carreira.

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Logo a energia desta arte
Adentrou pelo seu corpo
Em pouco tempo de treino
Já percebia o conforto
A capoeira para sempre
De sua vida fez-se o porto.

Na Bahia já frequentava
Capoeira com os mestres
Rodas jogadas nas ruas
No caminho dos pedestres
Tinha meta em conquistar
Outros espaços terrestres.

Já bamba na capoeira
Em Angola ou Regional
A buscar conhecimento
Ia sempre à Capital (Salvador)
Frequentava os terreiros
De maneira natural.

Teve contato com alunos
Do Mestre Bimba e Pastinha
Fazendo apresentações
Com o Gato e Canjiquinha
Waldemar e Caiçara
E outros da mesma linha.

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Suassuna aos grandes mestre
Veio a traçar referência
Mais tarde estes amigos
Deram justa deferência
Diplomaram o baiano
De mestre da competência.

Mil novecentos e sessenta
Com mais cinco no pandeiro (1965)
À convite dos amigos
Meteu-se à aventureiro
Mudando para São Paulo
À procura de dinheiro.

No começo foi difícil
Abrir uma academia
Quanto mais de capoeira
Que tão pouco existia
Difundir a Regional
Era tudo que queria.

Correndo atrás do sucesso
Ele passou dificuldade
Trabalhou de escavação
De pedreiro na cidade
E sem falar da Bahia
Que morria de saudade.

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Depois de muito sufoco
Uma luz veio a brilhar
Uns amigos de Itabuna
Ele veio a se encontrar
Eram eles capoeira
E sabiam bem jogar.

Junto com o mestre Brasília
Criaram o “Cordão de Ouro”
Um grupo consolidado
Pra se tornar duradouro
E levar a capoeira
A todo desaguadouro.

O Suassuna ensinaria
A capoeira de Angola
E o Brasília a Regional
Que era um jogo da escola
E os dois pelo mundo
Escapariam da esmola.

No entanto essa parceria
Pouco tempo perdurou
Mas o Grupo Cordão de Ouro
Do Suassuna então vingou
E o mestre com maestria
Seguidores arranjou.

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Tempo de dificuldade
A capoeira passava
Preconceito de baiano
A todo lado reinava
Com muita perseverança
Ele não desanimava.

O valor de seu trabalho
Teve grande resultado
Cada aluno de seu Grupo
Se tornou um graduado
Citando Lolão e Belisco
Durinho e Caio ao seu lado.


Mestre Luiz Medicina
Continuou na Bahia
Quando Mestre Suassuna
Daquela Terra Partia
Continuar o seu trabalho
Medicina Assumiria.

Tarzan e Almir das Areias
Esdras Filho, Caveirinha
Ponciano, Canguru
Sarará com Bolinha
O Mestre Flávio Tucano
Zé Antônio com Quebrinha.

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Do Ceará Para Holanda
Lá se Foi Espirro Mirim
Mestre Cícero Pra Campinas
Ampliou seu camarim
Já pros Estados Unidos
Urubu partiu em fim.

Sampaio com Xavier
Mestres bons de capoeira
Logo vem o Geraldinho
Mestre bamba de primeira
Já o Mestre Tinta Forte
Dotado de grande sorte
Não tolera brincadeira.

Um episódio interessante
Passo agora a relatar
Suassuna muito simples
Não podia imaginar
Tinha alunos comunistas
Com o mestre a jogar.


No tempo da repressão
Que se chamou ditadura
Tido como subversivo
Veio a sofrer amargura
Levou cacete no lombo
Vomitou, teve fratura.

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Suassuna não sabia
Que ensinava capoeira
Aos amigos de Lamarca
Guerrilheiro de primeira
Foi detido pelo Dops
Na boa fase da carreira.

Mestre mesmo de verdade
É aquele que não se acomoda
Suassuna criativo
Inovou a forma da roda
Criou o Jogo Miudinho
Pelo mundo virou moda.

Compositor de quilate
Um cantor muito afinado
Ritmo feito de cadência
Harmonizando o gingado
Suassuna é portanto
Um mestre qualificado.


A sua discografia
É bastante original
Tantos discos bem gravados
De Angola e Regional
Versos simples populares
Um poeta universal.

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“Cordão de Ouro” cresceu tanto
No Brasil e no exterior
Graças à filosofia
Do seu mestre fundador
Nossa pura capoeira
É digna deste valor.

Tanto aluno ele formou
Impossível de contar
Quantos mestres por aí
Levam a vida a ganhar
Do jogo do Suassuna
A renda familiar.

O jogo da capoeira
É como o barco a navegar
Se formos contra a maré
Poderemos naufragar
O ligeiro come cru
Porque não sebe esperar.

Deus me ensinou a bondade
E meu Mestre a malandragem
Agora agradeço aos dois
Pela boa aprendizagem
Peço paz e harmonia
Pra seguir minha viagem

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